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sábado, 29 de maio de 2010

Estudos em Bioética.

Estou trabalhando, em praticamente todos os meus horários livres no meu trabalho de conclusão da especialização em psicoteologia e bioética, motivo pelo qual não estou postando com muita regularidade.... Aproveito então e para postar a introdução do artigo que estou elaborando e deixo no final uma lista de livros muito interessantes na área de bioética. 


A sua imagem e semelhança.
O inicio da vida e o aborto, reflexões para uma bioética cristã.


 
"O zigoto é um individuo humano atual e não simplesmente em potencial,  do mesmo modo uma criança é uma pessoa humana com potencial para desenvolver a maturidade."
                                              Kurjak, MD, PhD
Medical School Universit of Zagreb, Sveti Duth Hospital, Croatia.


Começamos este artigo com uma afirmação contundente: Não há duvidas que a nossa cosmovisão influencia nossas atitudes e ações éticas.

Esta afirmação em si já é um problema , uma vez que culturas diferentes possuem um olhar diferente para seus problemas. Desta forma não podemos  compreender uma construção de uma bioética universal,  a não ser que tenhamos apenas um cosmovisão universal e apenas uma forma de pensar. Isto  parece algo extremamente ruim e conflitante. Porém entendemos que devem haver “mínimos” éticos universalistas, a partir do qual podemos dialogar em sentidos convergentes. A dignidade da pessoa humana, a princípio, deveria ser um destes mínimos éticos. 

Claro que não podemos impor uma bioética que seja baseada apenas em uma cosmovisão do mundo, i.e., impor à sociedade em geral uma bioética cristã. A formação de uma declaração de bioética que se baseia em princípios cristãos deve tentar ser o mais universalista possível na discrição de suas definições apelando para o dogma apenas quando os demais recursos argumentativos estejam findos e o dogma seja então o ultimo recurso da defesa do próprio dogma. Mas devemos lembrar sempre que ela é em primeiro plano uma bioética cristã e em primeiro lugar  direcionado à orientação daquele que advoga a fé cristã.

Atualmente um dos grandes problemas na bioética é a tentativa de separar o processo biológico inicial da formação do feto de algo entendido como pessoa humana, de tal  forma  que, ao tentarmos conceituar o que é pessoa pode-se prolongar o período de aceitação do aborto.

Assim fazemos também diferenciação entre o ser humano (entidade biológica) da pessoa humana um com mais valor do que o outro, o que pode incorrer em diferenciações posteriores ao nascimento, o que poderia fazer com que critérios fossem utilizados para identificar o que seria um ser humano, enquanto pessoa e o que seria o animal humano, não dotado de dignidade de pessoa.

Mas se há de fato esta diferenciação qual o é? O ser humano não é um ser em processo de humanização? Ou de tornar-se pessoa no decorrer de sua vida? Ou podemos entender que há um ponto de diferenciação? Podemos afirmar que este apresente um maior valor que o ser humano? Dai podemos fazer uma escala de valorização?

Não há pretensão de se impor uma abordagem ética à toda a sociedade, baseada em precipícios religiosos de um grupo. Sabemos que esta forma de imposição não funciona, mas o que pretendemos é aprofundar o entendimento sobre o tema baseado na perspectiva cristã para um diálogo com as demais perspectivas e principalmente como fator orientativo para os cristãos e quem desejar uma opinião evangélica sobre o assunto, como salienta o texto do volume 15 da revista Bioética & debate - TRIBUNA ABIERTA DEL INSTITUT BORJA DE BIOÈTICA[1]

"En una sociedad plural, no se puede imponer una ética de máximos para todos, sino que se deben buscar unos mínimos éticos compartidos que garanticen la convivencia."

Porém sabemos também que a busca por uma bioética secular universal não chegou até o momento a um bom termo, como nos indica Engelhardt 2:

“”Malogrando o projeto de formar uma moralidade secular geral, sem compromisso com uma visão moral particular, o moderno projeto filosófico de justificar uma bioética secular fracassa. Aqueles que procuravam orientação a partir da moralidade secular seriam relegados ao niilismo e ao relativismo não-qualificado.”




[1] Bioética & Debate ,Volume15, nr57-Considerasiones sobre el  embrion humano  pg 2, http://www.bioeticaefecrista.med.br/textos/consideraciones%20sobre%20el%20embrion%20humano.pdf
[2]  Fundamentos da Bioética, H. Tristaram Engelhardet, Jr. Pg 15

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Livros que estou utilizando :

Ética Prática - Peter Singer
Fundamentos da Bioética - Engelhardt
Fundamentos da Bioética Cristã Ortodoxa - Engelhardt
Bioética, Pessoa e Vida - Dalton Luiz de Paula Ramos (org.)
Bioética como novo paradigma -  Marcelo Pelizzoli (org.)
Buscar Sentido e Plenitude de Vida - Léo Pessini & Christian de P. de Barchifontaine (Org.)
Bioética, o que é, como se faz - Fernando Lolas.
Biotecnologia e Bioética, Para onde vamos? - Antônio Moser.
Para conhecer a Ética Cristã - Marciano Vidal.
Ética pós-moderna - Zygmunt Bauman
Fundamentos da Bioética - Léo Pessini & Christian de P. de Barchifontaine (Org.)
Bioética, cuidar da vida e do meio ambiente - Leomar Antônio Brustolin (Org.)

Bioética - Hermenêutica e casuística - José R. Junges

Bioética: avanços e dilemas numa ótica interdisciplinar - Lothar C. Hoch e Karin Wondracek (Orgs.)

Bioética: Ciência e transcendência, uma perspectiva teológica- Mário Antonio Sanches

Introdução geral à bioética: história, conceitos e instrumentos - Guy Durand

Bioética - Alguns desafios - Leo Pessini

Bioética: poder e injustiça - Volnei Garrafa & Leo Pessini

Manual de bioética - Elio Sgreccia

Bioética - Uma Aproximação - Joaquim Clotet

Bioética, novo conceito: a caminho do consenso -François Hubert Lepargneur
 


quinta-feira, 20 de maio de 2010

A banalização da vida e a industria da morte

Propaganda pró-aborto gera protestos

Clínica no Reino Unido pretende veicular primeiro comercial de aborto na TV
Propaganda pró-aborto 
gera protestos O Centro Legal Cristão (CLC) condenou os planos da rede de clínicas especializada em abortos Marie Stopes. Ela pretende veicular a primeira propaganda para os serviços de aborto na TV.

A propaganda está prevista para ir ao ar no Canal 4 na GMT, no dia 24 de maio. O anúncio tem como mote a pergunta "Você está atrasada?", fazendo referência às mulheres que estão com a menstruação atrasada e suspeitam estar grávidas.

O comercial faz parte de uma ampla campanha "para enfrentar o tabu do aborto". No entanto, grupos cristãos estudam medidas legais para impedir a transmissão do anúncio.

Enquanto as clínicas de aborto comerciais estão proibidas de fazer publicidade na televisão pela Comissão de Broadcast Advertising Practice, a proibição não abrange as teoricamente "não-lucrativas", como é o caso de Marie Stopes. Um novo projeto deverá entrar em vigor em setembro. Ele afirma que “as propagandas para serviços comerciais de concepção pós-aconselhamento e aconselhamento individual sobre os problemas pessoais não são aceitáveis".

A diretora do Centro Legal Cristão, Andrea Minichiello-Williams, disse que o planejamento familiar é uma indústria multimilionária que não deve ser ajudada pela publicidade da TV. "Permitir a difusão de publicidade de serviços que fazem referência ao aborto é, na verdade, permitir a promoção de exploração desses serviços, e não o interesse da saúde ou bem-estar psicológico das mulheres”, revela.
Integrantes da sociedade estão se dizem preocupados com a autorização do anúncio, pois ele será veiculado em suas salas de estar, especialmente pelo horário de 10h10, quando muitos adolescentes estarão assistindo.

"A noção de que a destruição da vida humana pode ser anunciada livremente na TV como um serviço ao público é ultrajante. Vamos fazer tudo para impedir", explica Andrea.

Cerca de 200 mil abortos são feitos no Reino Unido a cada ano. Marie Stopes ganha cerca de R$ 30 milhões por ano para a realização de abortos.

"O aborto não é um serviço do consumidor. Apresentá-lo como tal é um desrespeito à vida. É altamente enganoso e prejudicial para as mulheres, que podem ser influenciadas a tomar uma decisão de forma precipitada e irreversível”, conclui. 

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Observações 

A vida é tratada como um produto que pode ser descartada sem maiores problemas....  Quanto tempo vai demorar para que os filhos possam providenciar eutanásia dos pais que estão velhos e dando trabalho? ou de deficientes mentais ? A industrialização da morte começa nos campos de concentração nazistas e chegam a plenitude atualmente, 200 mil assassinatos por ano, consentido e aprovado pelo governo e talvez seja pouco, afinal podemos incentivar mais mortes se fizermos uma propaganda correta... se incentivarmos e quebrarmos o tabu de que matar é errado.... Se o ser que eu quero matar é indefeso melhor ainda.... 

Apesar desta triste notícia que lemos acima, ainda há esperanças.... 

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou ontem, por 16 votos contra 4, o Estatuto do Nascituro,  lei que reconhece a personalidade jurídica e o direito à vida desde o momento da concepção.  

Para tornar-se lei, o projeto ainda deve ser votado na Comissão de Constitucionalidade, no Plenário da Câmara e no Senado. 

Para saber mais sobre esta lei clique AQUI



domingo, 16 de maio de 2010

Malafaia sai da CGADB

Eu não disse??? Tinha quase absoluta certeza que este seria o próximo passo do Malafaia. Quando ele assumiu praticamente a AD da Penha  (20/04 -  Ver matéria no O galileu )  achei que estava armado a estratégia para o próximo passo, sua total e completa independência, isto é, o que ainda podia dificultar a sua trajetória rumo a supremacia total da teologia da prosperidade. Ele já vinha enfrentando a oposição de alguns pastores dentro da própria AD e claro que nada melhor do que ter sua própria igreja, agora livre, leve e solto.

Apesar do belo discurso que o Malafáia realizou  (quase me convenci da sua postura...) o final é que demonstra bem sua posição e forma de agir. Quando afirma que o nome Vitória em Cristo é seu e está registrado e que vai obrigar (por via judicial se for necessário) quem utilizar ou que já utiliza a arrancar este nome da placa da Igreja. 

Bem, vamos esperara para ver no que vai dar..... Se bem que com a homenagem ao seu mentor Mike Murdock não dá para esperar algo muito diferente do que ele já vem propagando, creio que agora ele vai mergulhar mais profundamente ainda nesta linha de tão grande sabedoria..... Lamentável....

Assista os vídeos abaixo.

Parte I





Parte II

terça-feira, 4 de maio de 2010

O perfil do teólogo hoje....


Li o texto do Mons. Urbano Zilles intitulado "Perfil do Teólogo Hoje." O qual reproduzo um trecho abaixo. Trata-se de um texto escrito por um teólogo sacerdote católico que faz a análise a partir do contexto educacional católico. No caso de teólogos protestantes a realidade é outra, sendo ainda teólogo protestante no Brasil a realidade é bem outra....

Na grande maioria das igrejas protestantes brasileiras a figura do teólogo inexiste e quando existe é visto com desconfiança.

Em muitas denominações o desejo de ser teólogo é visto como sinal de arrogância e as vezes até como risco de desvio da fé.

Raríssimos são os teólogos protestantes no Brasil que podem exercer sua função em tempo integral, dando aulas, palestras e se debruçando na produção literária. Por isso a teologia protestante tupiniquim é extremamente escassa.

Não se trata somente de descaso das Igrejas, há claro uma profunda falta de entendimento da "função" do teólogo na igreja e também na sociedade, além do que o teólogo é um "bicho" caro de sustentar, deve estar constantemente participando de cursos, palestras, especializações etc, etc... e boa parte das igrejas não tem recursos suficientes para manter este espécime vivo, e se ainda a instituição não souber responder a pergunta : "Por que devo gastar isso com o teólogo ? " ou "O que pretendo do teólogo?" temos ai então o quadro que sustenta o intelectualismo protestante nacional.

Mas para aqueles, como eu, que pretendem continuar está árdua, mas gratificante, tarefa reproduzo algumas qualidades citadas no texto do Mons. Urbano, reproduzidas de Peter Hunermann, assim sendo o teólogo deve :


1. Deve ser um homo doctus. Para isso deve ter o domínio em sua área de conhecimento, a capacidade e a competência de participar nas discussões científicas. Somente a competência em sua área de conhecimento lhe garantirá respeito e autoridade perante os colegas. Nessa perspectiva cabe-lhe tratar a Teologia como scientia, com o rigor dos diferentes métodos.

2. Deve ser um homo eruditus. É necessário ser especialista, mas isto não é suficiente. Do docente de Teologia espera-se que tenha sólida formação geral e humana, em permanente atualização. Os problemas de sua área específica sempre o confrontarão com áreas vizinhas. Precisa saber buscar informações em fontes confiáveis para uma visão mais global, alargando e aprofundando horizontes interdisciplinares. Deve saber conduzir o diálogo entre fé e razão.


3. Deve ser um homo habilis. A formação geral e cristã não dispensa o bom senso para as coisas de Deus e dos homens. Deve ser homo habilis para falar, escrever e agir, apresentando perspectivas para ser cristão no mundo de hoje e capacidade crítica para rejeitar projetos inviáveis na diagnose e solução de problemas concretos.


4. Deve ser um homo publicus. Deve ter consciência de que suas ações e palavras e seu modo de ser exercem influências sobre o pensamento e o comportamento de outras pessoas, sobretudo
dos alunos. Como professor deve ser educador, conduzindo e orientando os alunos com autoridade, sem ser autoritário. Para desenvolver suas habilidades, participa em associações de classe, integrando-se no espaço público. Na era da globalização, a responsabilidade pública de seus atos e de suas palavras ultrapassa as fronteiras de um país ou de uma cultura.

5. Deve ter pressupostos pessoais, éticos e religiosos, pois impende-lhe ser um homo fidelis, um homem crente. O docente de Teologia, como em outras áreas de conhecimento, deve ter capacidade para inovar e criar, a competência para liderar e orientar. Isso exige pressupostos interiores e espirituais – sacra docens et sacra dicens – que fecundam a racionalidade e a competência adquirida. Sua ética não se pode limitar ao interesse pessoal. O fundamento do ethos do teólogo é a fé em Deus e nele fundamenta seu esforço para renovar o mundo. A fé, a esperança e a caridade capacitam o teólogo a assumir sua missão com coragem e o dispõem a colaborar na construção de um mundo melhor, mais fraterno, mais justo, mais humano e mais cristão. 6. Peter Hünermann diz que deve ser também um homo praeditus sapientia, ou seja, um homem sábio no sentido em que Tomás de Aquino diz na quaestio prima da Summa Theologiae: a “Teologia é doutrina segundo a revelação divina”, caracterizando-a, depois, como sabedoria. Trata-se de ordenar, julgar e buscar uma visão de conjunto das coisas na perspectiva de Deus (S. Th. 1, q. l a. 3 a 8).

7. O teólogo é para a Igreja, para as comunidades e para a hierarquia, ou seja, é e deve ser um homo ecclesiasticus, um homem para a Igreja. Hünermann assevera que “é a racionalidade da fé
eclesial”, como testemunhada desde o começo e se desenvolveu na história do povo de Deus.

Fácil, fácil.... Mas a todos que desejam e tem o chamado para o pensar teológico (o Senhor chamou alguns para Mestres...), entendam corretamente qual é a função do seu chamado. Pessoalmente creio que a principal função do Teólogo é ser Profeta, em uma sociedade e em uma Igreja que atualmente já está quase se tornando pós-cristã.... O desafio é grande.