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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O risco de esquecermos da espiritualidade.

que vem a ser a espiritualidade, o que vem a ser por fim a busca por Deus?

Em uma sociedade tão materialista, corremos o risco de confundirmos a espiritualidade com a busca de bênçãos de Deus.

Espiritualidade não é buscar as bênçãos de Deus, essa é a maior manifestação de materialismo que podemos mostrar. É claro que temos necessidades matérias e que devemos coloca-las diante de Deus, pois demonstra nossa dependência e confiança no Senhor.

Não é disso que estou falando, estou falando de quando nossa busca por Deus somente se resume a este ponto específico, somente procuro a Deus quando tenho dificuldades, ou problemas.

Geralmente confundimos materialismo com ateísmo, pois eu digo que há muitos ateus espiritualistas, apesar de toda a incompatibilidade destes termos, e muito cristãos extremamente materialistas, sua busca espiritual limita-se ao acesso ao sucesso material.

E nos últimos tempos estamos tão confusos que julgamos que as pessoas bem sucedidas materialmente é que são as mais próximas de Deus, ou as que nunca enfrentaram uma crise ou as que nunca passaram por uma doença...

Ultimamente estou estudando um pouco sobre o movimento Puritano, e a sua busca por um cristianismo mais autêntico e sincero. Um cristianismo que voltasse a colocar a Jesus como padrão, e que todos pudessem entender que a maior benção a ser alcançada já era nossa, a vida eterna, a reconciliação com Deus. Talvez falta-nos um pouco deste espírito de entrega e busca por Deus.

Phillip Jacob Spener, um dos grandes teólogos puritano, afirma em seu livro Pia Desideria, (piedade sincera) que não é raro vermos nos procedimentos judiciais, os processo ferirem o amor ao próximo, quando não os próprios juristas usarem o poder em benefício próprio, que no sistema econômico não se observa o dever de honrar a Deus e ao bem estar do próximo? Indaga ainda o autor : “ Quem é que não busca apenas e tão-somente a satisfação de suas necessidades? E esquecemos de que é pecado usar certas vantagens que, no mundo não carregam consigo má fama – pelo contrário, são tidas como sagacidade e prudência – mas que são prejudiciais ao nosso próximo, oprimindo-o e explorando-o”

Bem ele escreveu isso em 1675, parece que as coisas não mudaram muito de lá pra cá....

Achamos que Deus deve ficar confinado na Igreja, esquecemos que Deus deve estar na política, na economia, na justiça, em todos os momentos da nossa vida.

O momento que Jô esteve mais perto de Deus foi quando ele estava passando a pior crise da sua vida, gravemente doente, empobrecido, havia perdido seus filhos, todos se voltavam para ele com um misto de piedade e desconfiança, ou seja não recebia apoio de lugar nenhum, mas foi somente após todos estes transtornos é que ele afirma que antes somente ouvira falar de Deus, mas agora meus olhos te vêem.

O que estou querendo dizer então? Que devemos viver na pobreza, sofrermos para buscar a face de Deus? Não nada disso.

O que quero dizer que a nossa sociedade não é uma sociedade cristã, não vive por parâmetros cristãos, que sistema que a domina e a rege é um sistema demoníaco em suas estruturas. É um sistema que incita a competição desenfreada, a busca incessante por dinheiro e poder, que vê o outro como um objeto é não como alguém, como um ser humano.

O que quero dizer que nós como cristãos estamos constantemente apoiando estes sistemas e incentivando e achando até justificativas bíblicas para ele.

O que quero dizer é que o que Jesus disse de Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo é completamente incompatível com as estruturas da nossa sociedade.

O que quero dizer é que a espiritualidade é a busca por Deus. As vezes podemos tentar fugir de Deus, a nossa sociedade vive querendo fugir de Deus, e para isso criamos utopias, ou sistemas em que não necessitaríamos de Deus. Eu não canso de repetir a frase de Tolstoi : “ O ser humano tem um vazio do tamanho de Deus.”, não há como fugir de algo de que está em nós ou que nada possa preencher o nosso vazio existencial.

Penso que Davi sentiu isso muito de perto, Ele era um rei que muitas vezes tomou decisões erradas, pecou mas apesar de todos os erros que cometeu, ele buscava a Deus, nos momentos em que ele errou creio que gostaria de fugir de Deus, esconder-se assim como fizeram Adão e Eva, achando que poderiam esconder-se de Deus.

Mas vamos ver um pouco mais o que Davi aprendeu sobre Deus, e o que nós podemos aprender hoje.

Autor : Davi

Salmo 139

1 Senhor, tu me sondas, e me conheces.

2 Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.

3 Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos.

4 Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces.

A imagem que o salmista nos passa é que Deus está nos observando, Ele nos vê, constantemente Deus nos vê, e Deus nos conhece, sabe o que pensamos, o que sentimos o que tencionamos fazer, constantemente.

Não há momentos em que estou fora da presença de Deus, quando descanso, quando estou de pé, quando estou trabalhando, além disso Deus conhece as intenções do nosso coração, sabe o que se passa no nosso interior, aquilo que planejamos, aquilo que ainda não falamos Deus já conhece, aquilo que não disse, Deus sabe que gostaria de dizer.

5 Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão.

6 Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir.

Você pode imaginar, ou sentir estar cercado por Deus? Segundo o salmista Deus está a nossa volta nos cerca, ao contrário do que muitos apregoam Deus não está em tudo, Deus não está numa arvore, numa pedra, mas Deus está por toda a parte. Desta forma chegamos a conclusão em conjunto com o Salmista que o conhecimento de Deus e inatingível para nós, dependemos da sua revelação, ou seja de que Deus se revele para nós,

7 Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença?

8 Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também.

De Deus não se escapa. Ele é Deus somente porque d’Ele não se escapa. E apenas aquele do qual não se pode escapar é Deus.
Não há lugar para o qual possamos tentar fugir de Deus, que esteja fora do próprio Deus। “Se eu subo aos céus, tu estás lá”. Parece natural que Deus esteja nos céus, e muito estranho desejarmos subir aos céus a fim de escapar d’Ele.
Mas é justamente isso que os idealistas de todas as eras têm tentado fazer. Eles têm tentado subir a um céu de perfeição e verdade, de justiça e paz, onde Deus não é procurado. Tal céu é um produto da feitura humana, sem o incômodo do Divino Espírito e sem a presença julgadora da Face Divina. Antes, esse lugar é um “lugar nenhum”; é uma “utopia”, uma ilusão idealística.

Quantas tentativas de se criar uma sociedade mais justa, hamônica, feliz já se tentou??

Desde a Polís grega, passando pela República dos romanos, pela sociedade Comunista, Capitalista, todas as tentativas acabaram ficando aquém do que seria aceitável, por que?

Simplesmente porque em todas falta Deus, tenta-se criar a esperança do Reino de Deus através de mãos humanas, todas são apenas sombras pálidas das promessas de Deus, uma sociedade por melhor que sejam seus sistemas econômicos, políticos e econômicos sem Deus não funciona.

Da mesma forma que uma Teocracia também não funcionaria, porque ainda que em nome de Deus ela é feita por mãos humanas, tentando agradar a Deus. Um dos piores erros que podemos cometer é tentarmos criar sistemas para agradar a Deus. Os escribas e fariseus queriam fazer um sistema para agradar a Deus.

“Se eu fizer a minha cama no inferno, eis que tu estás lá”. O inferno ou sheol, a habitação dos mortos, pareceria ser o lugar certo para se esconder de Deus. E é para lá que todos os que anseiam pela morte pretendem fugir, a fim de escapar de escapar das Demandas Divinas.

Eu estou convicto de que não há nenhum sequer no nosso meio que jamais, em algum momento, tenha desejado se livrar do julgo da existência, saindo dela.

Mas todos nós sabemos, lá no fundo da nossa alma, que a morte não provê um escape dessa consciência que há em nós.

9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,

10 ainda ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.

Voar para os confins da terra não significaria fugir de Deus. Nossa civilização moderna tenta justamente isso, a fim de se libertar da falta de conhecimento, o qual é o centro da vida e do sentido.

O método moderno de fugir de Deus é correr mais e mais adiante, tão rápido quanto o brilho do amanhecer, conquistar mais e mais espaço em todas as direções, em todos os caminhos humanamente possíveis, estar sempre ativo, estar sempre planejando, e estar sempre preparando.

Quando não queremos encarar a realidade, quando queremos fugir de Deus, tentamos substituir Deus, criando outros deuses, o trabalho, o dinheiro, o poder, quantas vezes criamos nosso deus particular, para não encararmos a vida, procuramos mais e mais atividades, não queremos parar, correndo para o nada.... Diz-se que o pior inimigo do homem moderno hoje é o silêncio, o silêncio nos faz pensar e não queremos pensar.

Mas a mão de Deus cai sobre nós; e ela tem caído de forma estrondosa e destrutiva sobre a nossa civilização fujona; esse nosso vôo provou ser vão

11 Se eu disser: Ocultem-me as trevas; torne-se em noite a luz que me circunda;

Fugir para a escuridão a fim de esquecer Deus, não é escapar d’Ele. Por um momento, podemos até ser capazes de lançá-lo fora de nossa consciência, rejeitá-Lo, refutá-Lo, argumentar convincentemente sobre a sua não-existência, e viver bem confortavelmente sem Ele.

Mas no final sabemos que não é Ele a quem rejeitamos e esquecemos, antes é alguma figura distorcida d’Ele. Nós sabemos que só conseguimos falar contra Ele porque Ele mesmo nos impele a atacá-Lo. Não há escape de Deus através do esquecimento.

12 nem ainda as trevas são escuras para ti, mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.

O poeta que escreveu essas palavras para descrever a fútil tentativa do homem de escapar de Deus, certamente acreditava que o homem deseja escapar de Deus.

Ele não está sozinho na sua convicção. Homens de todos os tipos, profetas e reformadores, santos e ateus, crentes e descrentes, têm a mesma experiência. É seguro dizer que, um homem que nunca tentou fugir de Deus nunca experimentou o Deus que é realmente Deus.

Quando eu falo de Deus, eu não me refiro aos muitos deuses de nossa própria feitura, os deuses com os quais podemos viver de forma confortável. Pois não há razão para fugir de um deus que é a figura perfeita de tudo que é bom no homem.

Por que tentar escapar de um ideal tão remoto? E não há razão para escapar de um deus que é simplesmente o universo, ou as leis da natureza, ou o curso da história. Por que tentar escapar de uma realidade da qual nós somos uma parte? Não há razão para escapar de um deus que não é nada mais do que um pai benevolente, um pai que garante nossa imortalidade e o nosso final feliz. Por que tentar escapar de alguém que nos serve tão bem? Não, tais representações não são figuras de Deus, mas do homem, tentando fazer Deus à sua própria imagem e para seu próprio conforto.

São produtos da imaginação e do pensamento desejoso do homem, negados por qualquer ateu honesto. Um deus o qual podemos facilmente suportar, um deus do qual não temos que nos esconder, um deus o qual não odiamos em algum momento, um deus cuja destruição nunca desejamos, não é Deus de fato, e não possui realidade.

13 Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe.

14 Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.

15 Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido nas profundezas da terra.

16 Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles.

”. A Presença Divina é espiritual. Ela penetra nas partes mais íntimas do nosso espírito. Toda nossa vida interior, nossos pensamentos e desejos, nossos sentimentos e imaginações, são conhecidos por Deus.

O último meio de escapar, o mais íntimo de todos os lugares, é sustido por Deus. Tal fato é o mais difícil de todos de aceitar.

A resistência humana contra essa implacável observação pode assustadoramente ser quebrada. Cada psiquiatra e confessor são familiares com essa tremenda força de resistência que há em cada ser humano, até mesmo contra as insignificantes auto-descobertas. Ninguém quer ser conhecido, mesmo sabendo que a sua saúde e salvação dependem de tal conhecimento. Não queremos ser conhecidos nem por nós mesmos.

Tentamos esconder as profundezas da nossa alma até mesmo dos nossos próprios olhos. Recusamos ser nossas próprias testemunhas. Como então podemos nos postar diante do espelho do qual nada pode ser escondido?

17 E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grande é a soma deles!

18 Se eu os contasse, seriam mais numerosos do que a areia; quando acordo ainda estou contigo.

19 Oxalá que matasses o perverso, ó Deus, e que os homens sanguinários se apartassem de mim,

20 homens que se rebelam contra ti, e contra ti se levantam para o mal.

21 Não odeio eu, ó Senhor, aqueles que te odeiam? e não me aflijo por causa dos que se levantam contra ti?

22 Odeio-os com ódio completo; tenho-os por inimigos.

Reconhecer o infinito mistério da vida, o seu Fundamento e significado.
Mas, de repente, no ápice da sua meditação, o salmista acaba se afastando de Deus. Ele se lembra que há um elemento pernicioso na imagem de sua vida – a inimizade contra Deus, a impiedade e os atos sangrentos.

E uma vez que esse elemento prejudica a sua imagem, ele pede para Deus erradicá-lo.

E em repentina ira ele brada: “Se tu matasses o ímpio, oh Deus, e fizesses todos os homens sanguinários apartarem-se de mim, aqueles que opõem a ti em seus pensamentos, e cometem crime em teu nome! Por acaso, eu não odeio aqueles que te odeiam, oh senhor? Por acaso, eu não os desprezo? Eu os odeio com o mais mortal dos ódios. Eles são também meus inimigos!”

Essas palavras perturbariam qualquer um que pensa que o problema da vida pode ser resolvido com meditação e elevação religiosa. O senso de tais palavras é bem diferente das primeiras.

O louvor transforma-se em maldição.

E o tremor da alma, diante do Deus que tudo vê, é substituído pela ira contra o homem. Essa ira faz o salmista sentir que é igual a Deus, o Deus do qual ele desejou fugir e ir para a escuridão e para a morte.

Deus deve odiar aqueles a quem ele odeia; e os inimigos de Deus devem ser seus inimigos. Ele acabara de falar da infinita distância entre os seus pensamentos os pensamentos de Deus; mas ele esquecera.

O fanatismo religioso aparece, o mesmo fanatismo que tem inflamado a arrogância das igrejas, a crueldade dos moralistas, e a inflexibilidade dos ortodoxos.

O pecado da religião aparece em um dos maiores salmos. É esse pecado que tem destruído da história da igreja e a visão do cristianismo, e que não foi evitado nem mesmo por Paulo e João.

Naturalmente nós, cuja experiência religiosa é pobre e cujo sentimento sobre Deus é fraco, não deveríamos julgar tão severamente aqueles que vivem com o ardor do fogo da Presença Divina e espalham esse fogo ao redor do mundo.

Todavia, o pecado da religião é real; e contradiz Espírito daquele que proibiu seus discípulos, várias e várias vezes, odiarem seus inimigos como inimigos de Deus.

Depois disso, uma mudança de pensamento e sentimento leva o salmista repentinamente para o início do seu poema. Ele sente fortemente que parece haver algo errado naquilo que ele proferiu. Só que ele não sabe o que está errado; mas ele está convicto de que Deus sabe

23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos;

24 vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno.

Então ele conclui com uma das maiores orações de todos os tempos: “Sonda-me, oh Deus, e conhece o meu coração. Prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho errado; e guia-me no caminho perfeito”. Nesse momento ele pede a Deus para fazer algo que, de acordo com as primeiras palavras do salmo, Ele já faz.

O salmista superou a sua oscilação entre a vontade de fugir de Deus e a vontade de ser igual a Deus. Ele descobriu que a solução final está no fato de que a Presença da Testemunha, a Presença do centro de toda vida dentro do centro da sua vida, implica tanto em um radical ataque contra a sua existência quanto em um significado último para a sua existência. Nós somos conhecidos no profundo da escuridão através da qual nós mesmos não ousamos olhar.

Muitos hoje fogem de Deus, fogem de algo que é impossível escapar, querem criar seus próprios deuses, manipuláveis. Criamos sistemas e estruturas para ignorar Deus, ficamos alienados da presença divina, em parte conseguimos. Não entendemos que não há como fugir de Deus ou ignorar Deus, mais cedo ou mais tarde iremos nos dar conta disso.

Por outro lado, queremos alcançar a Deus, nossa alienação é tão grande, que criamos igrejas, fazemos adoração a Deus, oramos, criamos estruturas para tocar a Deus, e ignoramos nosso próximo, nos afastamos dos necessitados, ignoramos os oprimidos. Nos aliamos a sistemas que exploram o ser humano tiram sua dignidade.

Não é possível existir relacionamento com Deus, se não houver um relacionamento sincero com o meu próximo.

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